quinta-feira, 7 de fevereiro de 2019

Creepypasta: A Coisa lá Fora

Richard acordou suando.

Despertado de um sonho, Richard sentou-se, com a respiração acelerada. Suas mãos estavam tremendo, e gotas frias de suor escorriam por seu pescoço. Ele não conseguia dizer o que o acordou. Ainda estava escuro lá fora; um pedaço de sua janela mostrava nada mais que uma noite sem nuvens, e o relógio digital que ficava numa escrivaninha à esquerda de sua cama mostrava que ainda eram 3:38 AM. Não foi um pesadelo, já que seus sonhos, embora estivessem se apagando de suas memórias, eram normais e não assustavam ninguém. Tudo parecia perfeitamente mundano.

No entanto, Richard ainda estava tomado por arrepios de alguma presença desconhecida. Richard não ouvia, sentia ou enxergava essa presença, mas ele sabia que algo estava ali, e que de alguma forma o tinha acordado. Richard continuou sentado, parado, enquanto sua respiração agitada voltava lentamente ao normal e suas mão paravam de tremer. Ele estava congelando embora estivesse enrolado com lençóis grossos, e por mais que ele ficasse sentado de olhos arregalados, encarando a parede e pensando sobre a presença, a mente de Richard eventualmente começou a se cansar. Seja o que for já tinha ido embora ou afinal não existia. Suspirando, Richard deitou-se de novo no conforto de sua cama e fechou os olhos, numa tentativa de retornar ao mundo descuidado do sono e sonhos. 

Nem três minutos tinham se passado depois de fechar os olhos, Richard percebeu outra vez. Agora, subitamente alerta, sentou-se mais uma vez. Algo estava ali. Não era discernível. A mente de Richard começou a acelerar enquanto ele se levantava da cama, cambaleante, e saía do quarto. Talvez alguém tivesse arrombado sua casa? Isso seria horrível; alguém poderia estar escondido nas sombras de sua casa, fora de sua visão, e ele não saberia ou poderia dizer se suas intenções seriam malignas ou não. Poderia ser algo completamente mundano, como um animal selvagem ou uma janela quebrada, ou talvez fosse apenas seu cão.

Richard percebeu uma segunda coisa incomum enquanto saía do quarto. Seu cão, onde quer que estivesse, estava estranhamente quieto. Normalmente, se tivesse uma estranha presença em sua casa, seu cão ficaria agitado, mas Richard não viu ou ouviu seu cão enquanto andava pela casa, analisando tudo e olhando por todos os cantos procurando por alguém que tivesse invadido sua casa. Richard negava que sua mente estivesse lhe enganando. Havia algo ali, em sua casa ou perto de onde ele estava, mas nada parecia ter sido tocado, Os móveis estavam no lugar, nada foi derrubado, as lâmpadas estavam desligadas, e nenhuma das portas pareciam tinham sido abertas. Tudo parecia no lugar, mas a presença não desaparecia, e nem parecia se tornar mais forte ou mais fraca não importando por qual local da casa ele estivesse passando, era uma sensação onipresente porém não estando em lugar nenhum. Richard verificou a casa inteira duas vezes, e já estava chegando no topo das escadas para verificar o andar de baixo mais uma vez, quando, ao passar pela sala de estar, percebeu algo pelo canto do olho.

As cortinas da janela da sala estavam afastadas. Apenas isso, já que a janela não estava quebrada ou aberta. Richard, no entanto, lembrava muito bem de ter fechado as cortinas daquela janela em particular antes de ir dormir. A sensação que tinha invadido Richard agora parecia mais próxima, e um novo sentimento de nervosismo percorreu seu corpo enquanto seguia para a cozinha e pegava uma faca para se defender num pior cenário. Lentamente ele se aproximou da janela, e o viu.

Havia algo ali. Isso era tudo que Richard poderia definitivamente dizer. Tinha uma aparência humana, ou humanoide, mas suas costas estavam viradas para Richard e parecia estar olhando para baixo, como se estivesse se lamentando. Estava a uns sete ou oito metros de sua casa, apenas parado no meio da rua, coberto pela neblina noturna. Ele não se mexia. Nem olhava para trás. Nenhum carro passava, nada se movimentava, havia apenas a rua e aquela coisa. Richard olhava quieto e rígido, seu sangue gelando e seu coração pulando no peito. Suas mãos tremiam de novo, mas Richard continuava plantado no lugar, olhando para aquela coisa, tomado por um arrebatador sentimento de terror que ele nem sabia dizer se era real.

O temor pela coisa não pelo que aquilo seria ou o que estava fazendo. Era pelo que ela poderia fazer. Aquela coisa, fosse o que fosse, não era humana, ou algo perto disso. Simplesmente olhar para aquela coisa da segurança de sua própria casa dava para Richard a sensação de estar olhando para algo incompreensivelmente alienígena. A coisa, com sua forma humanoide, dava a Richard a impressão de não ser um homem, demônio ou monstro mítico, mas algo indescritivelmente horrível. Algo sem forma, sem tempo, abominável e indizível. Era como uma vasta presença que vivia apenas nas partes mais escuras do universo – e agora estava parado bem ali. O que ele poderia fazer ao se virar? Como seria sua aparência? E se a coisa decidisse entrar na casa? O que ele poderia fazer? A mente de Richard transbordava com pensamentos enquanto um pavor sobrenatural o dominava. Um pavor que começava a corroê-lo.

Ele não conseguia invocar a vontade de correr, de sair da janela ou mesmo fazer um simples movimento. Richard não queria descobrir o que era aquela coisa. Um instinto primitivo o avisava que ele não iria querer saber o que era. Com o medo atingindo o clímax dentro dele, Richard segurou firme a faca – e a levou para o próprio pescoço. Enquanto fechava os olhos bem apertados e se preparava para cortar sua própria garganta em desafio ao que aquela coisa poderia fazer, a sensação da presença foi suavizada. Richard se atreveu a abrir levemente os olhos, e viu que a coisa lá fora já tinha desaparecido. Era como se ela nunca tivesse estado ali. Seus músculos relaxaram.

Então, da cozinha, Richard ouviu seu cão começar a latir.

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